ENTREVISTA: Marcel Costa dá dicas para quem quer ouvir a sua música na rádio e conta sobre o novo programa Bússola.

“A gente acha que essa exposição é legal para o artista que dá valor ao trabalho dele” – Marcel Costa.

O mês de setembro fechou com uma estreia muito importante para a cena da música autoral brasileira. Agora, os artistas independentes, e até aqueles que já possuem algum tempo de estrada, ganham mais um espaço para divulgar seu trabalho. O Programa Bússola está do ar, desde o dia 25 de setembro na Rádio Brasil Atual (98,9FM) com a curadoria e apresentação de Marcel Costa, Paul Martins, Clemente Nascimento e algumas participações especiais.

Esses três nomes se tornaram grandes referências no impulsionamento de bandas e artistas da nova safra do rock brasileiro. São três gerações de músicos e comunicadores apresentando boa música, bate papo, irreverência e um panorama do mercado do rock brasileiro.

Conversei com o apresentador Marcel Costa, para entender um pouco mais deste novo projeto “Programa Bússola”. Confira:

Diário de Shows entrevista Marcel Costa

Quando recebi a notícia de um novo programa de rádio com o objetivo de divulgar bandas do cenário nacional, eu logo perguntei o motivo disso. Afinal, o Marcel já atua no Autoral Brasil na rádio USP e no Autoral Brasil na Kiss FM, ao lado do Paul Martins. Ingenuidade da minha parte acreditar que não tem tanta banda criando músicas comerciais o suficiente para irem para a rádio.

Então, o Marcel me contou que nestes programas já existentes, eles recebem muito material que nem sempre dá tempo de divulgar durante o programa. “A gente tem uma demanda muito grande de material que chega para os programas. Surgiu a oportunidade da gente ter esse programa em uma outra emissora de menor expressão, mas que tem feito um trabalho bacana em dar espaço para o produto cultural um pouco mais diversificado. A gente recebeu o convite e achou que seria legal ter mais um espaço pra tá tocando essas músicas e dar espaço para esses artistas. Dar maior vazão para estes materiais que a gente recebe que em uma hora na Kiss ou no Filhos da Pátria (Programa do Clemente) é muito pouco pra gente conseguir abraçar todo mundo.” – declarou o apresentador.

Mesmo assim, eu ainda quis entender um pouco melhor se há alguma diferença entre os perfis dos programas Autoral Brasil USP, Autoral Brasil Kiss FM e Filhos da Pátria comparando com o Bússola. Então, o Marcel me explicou, que:

“O Autoral surgiu de uma necessidade do artistas, não só de ter uma necessidade de tocar mas também de entender como funciona o mercado. Durante muito tempo até a pandemia, a nossa estrutura tinha sempre alguma pessoa relacionada ao mercado da música e uma banda nova, um artista já de uma carreira longa. O importante era o diálogo que a gente propunha e a ideia era desmistificar temas a cerca do mercado. Então quando a gente tinha um artista com mais estrada ele contava como foi os percalços no caminho, e quando tinha um artista novo, ele contava as dificuldades que ele tava enfrentando naquele momento. E os players do mercado estavam lá para elucidar algumas questões como Direitos Autorais, Streaming, Produção 360, e todo o tipo de questão relacionado ao mercado da música que é complexo, amplo e que abrange muitas frentes. Hoje o autoral se tornou um programa mais focado em entretenimento, a gente tem focado mais em música e tudo mais, mas ainda sim a gente carrega no nosso DNA a ideia do educacional, por mais que agora no rádio ele funcione como uma ferramenta de divulgação de artistas. A gente tá com novos projetos para o off-line e online para continuar com essa iniciativa de levar informação para o músico. Informação validada pelos maiores profissionais do mercado da música.”

“O Bússola funciona numa estrutura um pouco diferente, ele é um programa que a gente basicamente toca música. A ideia do Bússola é de situar o ouvinte tanto dentro desse novo mercado de rock, principalmente, embora a gente toque artistas mais antigos também.  Mas também no que diz respeito a arte e cultura. Então, além do Clemente, o Paul e eu, tem participações legais como o Ricardo Batalha, Rodrigo Branco… onde eles vão posicionando, trazendo dicas relacionados ao universo da cultura e da arte e a Bússola vai guiando o ouvinte através dessas dicas que vão além da música como livros, peças de teatro, filmes enfim.”

Mesmo recebendo muito material, o Programa Bússola também tem o cunho colaborativo com o ouvinte. É possível enviar sugestões, ideias, músicas e release da tua banda, além de assuntos relevantes do universo do rock brasileiro através da BIO no perfil do Instagram, @bussolarock.  Mas não ache que é tão fácil assim entrar na programação!

Eles estão de portas abertas para te receber, porém depende. O Bússola, e mesmo os outros programas no qual o Marcel, Paul e Clemente trabalham, são um espaço aberto para divulgação de trabalho autorais com o objetivo de dar visibilidade para o artista. Mas não é todo mundo que merece. Parafraseando Raimundos: “nesse show não entra menor”. Você precisa ter os critérios básicos para “tocar no radin”. Mas não se preocupe, o Diário de Shows conseguiu uma declaração do Marcel para que você consiga o seu lugar ao sol.

Então, por favor seu locutor, como funciona a curadoria pra tocar o som?

“A gente preza muito a qualidade do material. Não é toda banda, nem toda música que está preparada para o rádio, por uma série de fatores. A gente tá num programa muito mais aberto, porque a gente não tá falando de uma rádio exclusivamente comercial onde a gente tem que se adaptar a algumas regras do mercado de rádio. Agora temos uma liberdade maior pra colocar coisas diferentes, mas ainda sim músicas desafinadas, mal cantadas, ou de bandas que não dão valor ao próprio trabalho não tem vez no nosso programa. A gente tá afim mesmo de trabalhar bacana e de aproveitar as oportunidades, a gente acha que essa exposição é legal para o artista que leva a sério a arte dele. Não é um programa open door.”

“Eu sou o principal responsável pela curadoria do Autoral Brasil tanto na USP quanto na Kiss, vou te falar os critérios que eu adoto embora no Bússola, a gente faz uma curadoria mais dividida, cada um traz uma parte além das indicações dos parceiros.”

  • É importante entender seu público. Sua música tem que dialogar com o público que você imagina que é o seu público. E a estrutura dela tem que tá intimamente ligada a isso.

“Eu particularmente gosto de músicas originais, eu gosto de ser surpreendido, eu gosto de ouvir coisas que soem únicas, eu não gosto muito da ideia de quando uma banda soa muito parecida com a outra. Há alguns casos que isso é legal, mas eu também reconheço que essa originalidade é muito difícil de ser encontrada.” 

  • Mas entre outros aspectos, as músicas tem ser bem gravadas.
  • Arranjos legais
  • Bem tocadas
  • Letras inteligentes, bacanas
  • Um refrão chiclete que você pensa “isso é legal é radiofônico”.

“Como a gente é bem abrangente, então, a gente não se prende a uma estrutura básica de rádio, com verso/refrão/verso/ ponte, mais padronizada como a gente tem visto muito no sertanejo universitário. Então a gente abre espaço e consegue entender o que uma banda de trash metal de death metal quer comunicar? O que uma banda punk quer comunicar dentro da estrutura do punk? O heavy metal mais melódico e tradicional, até o pop rock e por ai vai. São muitas vertentes. Então a gente procura ver onde a música tá se posicionando, e se dentro daquele universo que ela habita, se é uma boa música naquele espaço.”

Com todas essas informações privilegiadas, ficou mais simples ter a sua música tocada na rádio e ainda mais sendo apresentada por esses grandes players do cenário da rádio brasileira, hein?

Programa Bússola

Ouça o programa liderado por Marcel Costa, Paul Martins e Clemente Nascimento na Rádio Brasil Atual (98,9FM – Grande São paulo; 93,3 FM – Litoral Paulista; 102, 7 FM – Noroeste Paulista) aos Sábados, das 20h às 22h.