O Allianz Parque reuniu 150 mil pessoas durante os três dias de shows da turnê de 40 anos dos Titãs em São Paulo
O rock não morreu. Ele talvez só estava um pouco adormecido neste país onde nos altos falantes prevalecem os acordes do sertanejo e funk. Mas depois que o mundo parou, muitas pessoas repensaram suas trajetórias de vida e o fato de sermos obrigado a ficar longe de quem andava ao nosso lado se tornou algo sufocante. Matar a saudade do passado se tornou algo extremamente desejável. Não sabemos se realizar uma turnê comemorativa de 40 anos de história se passavam na cabeça dos 7 integrantes dos Titãs até a pandemia chegar, mas sem dúvidas, promover esse Encontro ao redor do país, foi um abraço apertado de alívio no coração de cada fã.
Titãs Encontro acumulou diversas apresentações ao redor do Brasil e neste final de semana, finalmente a banda tocou no quintal da sua própria casa. Como o Liminha (Produtor dos Mutantes) disse durante o primeiro show: “a Pompéia é o berço do rock nacional”. E ali o Titãs apresentou grande parte dos seus maiores sucessos nas noites de sexta, sábado e domingo com shows de abertura das bandas de filhos de alguns dos integrantes, como a Colomy (do Sebastião Reis – filho de Nando) e a Sioux66 com Bento Mello (filho de Branco).
Com shows esgotados rapidamente em São Paulo, muita gente questionou se a banda era mesmo capaz de lotar o Allianz Parque atualmente. “Será que o palco vai ser metade do estádio como alguns shows já aconteceram ali?” Rumores pairaram na internet e a resposta no dia 16 de junho foi um belo e grande, não. Com uma estrutura de palco das mais belas que o Palestra Itália já recebeu, o show intitulado Titãs Encontro foi uma reunião gigantesca de diversas gerações no qual a banda influenciou.
Pouco depois das 20h30 na noite congelante da capital paulista, o telão do palco ficou completamente branco e os 7 integrantes dos Titãs entraram desfilando lado a lado ao som de aplausos ensurdecedores. Só era possível ver a silhueta deles e então, os primeiros dedilhados de Tony Belloto na guitarra deram início a uma noite de memórias vívidas e literalmente uma grande “Diversão”, como Paulo Miklos começou a cantar.
Ao fundo, apesar do semblante concentrado, Charles Gavin ditou a batida da noite em seu instrumento, enquanto Tony caminhava algumas vezes para o extremo canto direito olhando nos olhos do público, com seu olhar marcado por um lápis de olho bem rock’n roll. Do outro lado do palco, Sérgio Britto encantava no piano ao lado do baixista Nando Reis, que deixou o good vibes de lado e ressurgiu com grande atitude na apresentação.
Enquanto isso, Paulo Miklos tomava a frente do palco no começo do show, vestindo uma camiseta preta e uma calça prateada. No centro, tanto do palco quanto das atenções, Branco Mello com toda sua atitude e estilo de rockeiro ao lado de Arnaldo Antunes, que vestia um grande casaco verde musgo de bolinhas amarelas e vermelhas, se divertiam fazendo dancinhas peculiares, como dois jovens que não se importam com a opinião alheia.
O Titãs é um Encontro de diversas personalidades completamente diversificada com apenas um desejo: expor sua verdade em forma de música. Durante o show, todos os integrantes brilharam e tiveram seu momento de evidência ao cantar suas próprias composições, com o auxílio do público que sabiam todos os hits na ponta da língua.
Branco Mello fez uma declaração emocionada ao contar sobre a superação da doença que o afetou. “Eu tirei um tumor da garganta e agora estou aqui me divertindo e vou cantar pra vocês.” Mesmo com a voz debilitada e extremamente rouca, o músico entregou toda sua energia durante o show inteiro e era contagiante a sua felicidade em estar ali.
E ao falar sobre todos estes anos e a história dos Titãs, no telão foi exibido cenas da juventudes dos integrantes e a história do início, mexendo com a emoção de grande parte do público ali presente que acompanha a trajetória da banda há 40 anos.
Nesta hora os Titãs resolveram ter um momento mais íntimo com o público, dando continuidade ao show com as versões acústicas. Você já deve imaginar que “Epitáfio” contou com o show de luzes dos celulares. Nesta ocasião, o oitavo integrante da formação original, Marcelo Fromer, foi representado por sua filha Alice, que cantou as criações do pai acompanhada da plateia. A banda também homenageou a lendária Rita Lee com “Ovelha Negra”, além de relembraram a importância de Erasmo Carlos para o rock nacional ao som de “É Preciso Saber Viver”.
Ao voltar para a grande festa, Paulo Miklos exibiu todo o seu talento ao tocar saxofone em “Flores”. E como toda banda clássica eles se despediram do público para voltar alguns minutos depois. Arrancando gritos e aplausos como se aquele pseudo fim não tivesse durado mais de 20 músicas no setlist.
O Titãs retornou ao palco ao som de “Miséria”, seguindo de “Marvim” e finalizou a apresentação com o single de estreia lançado em 1984, “Sonífera Ilha”, espantando o frio da plateia com todos os fãs dançando incansavelmente. Segundo a opinião do público, este show foi marcante e inesquecível. Sendo uma honra poder ver todos os integrantes tocando e se divertindo juntos no mesmo palco. Coisa que pra quem assistiu um show dos Titãs nos últimos tempos, parecia algo inalcançável.
Foi notável o cuidado da produção e da banda ao preparar esta turnê de Encontro de todos os integrantes dos Titãs, nas escolhas das canções e principalmente no formato de exibição do telão, com diversas câmeras que criaram uma atmosfera imersiva, como se aquele momento fosse um sonho se tornando realidade para o rock nacional.
O Titãs Encontro se tornou um marco inesquecível na história da música brasileira.