Evento dedicado ao punk e hardcore aqueceu os corações dos fãs em um final de semana frio e chuvoso.
Nos dias 26 e 27 de agosto aconteceu mais uma edição do Oxigênio Festival. Anteriormente anunciado para o Aeroclube do Campo de Marte, na semana do evento precisou ser transferido para um espaço na área industrial da Barra Funda, local com muito mais facilidade de acesso via transporte público.
A edição deste ano trouxe à cidade algumas das bandas mais destacadas do cenário punk rock, hardcore e rock alternativo do Brasil, além de atrações internacionais. O clima de nostalgia pelo retorno de bandas clássicas que estavam em hiato.
Nem o frio e chuva intensos durante o fim de semana foram suficientes para afastar o público, que lotou o evento nos dois dias.
O festival teve uma ativação da Fujifilm, patrocinadora do evento, em que, para promover uma câmera instantânea que está em lançamento, os presentes tiravam fotos em frente ao totem da marca e levavam para casa.
A bagunça começou no sábado com a banda Refugiadas. Com seu discurso feminista aliado ao punk, as meninas aqueceram um público ainda pequeno que começava a se aproximar. Tem jeito melhor de começar um festival do que com muito barulho?
Logo em seguida, no palco externo, foi a vez da Lylith Pop agitar na chuva. Com influências claras de grandes nomes da música como Lady Gaga (muito presente na faixa “Submissão”), Depeche Mode e New Order, a cantora fez uma das apresentações mais animadas do dia. Destaque para o visual da musa e da banda, mesclando o punk com o gótico.
De volta ao palco interno, o Karaokillers, banda de covers idealizada pelo baterista Ed Avian (Tales From The Porn/ ex-Supla) e que conta com a Petra, repórter do Diário de Shows no vocal, convidou fãs ao palco para cantar suas músicas favoritas. Quem estava lá pode ouvir clássicos como “Misery Business”, do Paramore, “Hybrid Moments”, do Misfits e “Pet Sematary”, dos Ramones.
Na sequência tivemos Molho Negro e Sapo Banjo, esquentando o palco para uma das atrações mais aguardas: o Rancore! Liderado por Teco Martins, o grupo estava em hiato há alguns anos e seu anúncio no lineup animou as redes sociais do fãs, que pediam sua volta há tempos. Com clássicos como “Jeito Livre” e “Quarto Escuro”, o grupo apresentou uma experiência incrível que cativou desde o primeiro momento. A energia contagiante da banda no palco trouxe uma atmosfera eletrizante que fez todos pularem e se entregarem à música. O mosh pit na plateia foi uma verdadeira explosão de emoção, unindo fãs em uma celebração coletiva. Mesmo com a tarde chuvosa e gelada, a bagunça e a intensidade do público aqueceram o ambiente, criando uma conexão única entre a banda e os espectadores. Foi um momento memorável repleto de música, paixão e comunhão entre os presentes.
Em seguida tivemos o Colid no palco interno, enquanto o palco externo era montado para outra atração que retornava após 8 anos de hiato e muito pedida pelos fãs: o Blind Pigs.
O show dos icônicos punks foi uma verdadeira celebração musical e política que deixou uma marca permanente na plateia. Originários de Barueri, SP, o grupo trouxe consigo mais de três décadas de carreira, e essa experiência refletiu em sua performance poderosa e cativante. A participação especial de Badauí, o vocalista do CPM 22, no início do show, já estabeleceu uma energia contagiante que só aumentou ao longo da apresentação. O espetáculo foi mais do que apenas música: foi um manifesto. Discursos políticos bem articulados entrelaçaram as músicas, destacando a importância da união entre os povos e a busca por um mundo mais justo. A mensagem de coletividade e resistência ecoou em cada acorde e letra entoada. O carismático vocalista Henrike Baliú não apenas dominou o palco, mas também se misturou à plateia antes e depois do show, conversando e tirando fotos com os fãs. Eu, que não conhecia o trabalho do grupo, fui recebido por ele com um “seja bem vindo a essa legião de inconformados”. Sua expressão de alegria genuína deixou claro o quanto ele valorizava a presença de todos ali, tornando a experiência ainda mais especial.
O show do Blind Pigs não foi apenas uma performance musical, mas sim uma jornada envolvente que transcendeu o palco, unindo as pessoas em torno da música, da mensagem e da energia vibrante. Foi uma noite que ressaltou a importância do punk como veículo de mudança e reflexão, ao mesmo tempo em que celebrou a longevidade e a influência dessa banda rebelde e inspiradora.
De volta ao palco interno, o grupo de ska nova iorquino The Slackers fez uma apresentação divertidíssima e bem animada. Arriscando palavras em português, os carismáticos músicos estavam se sentindo em casa e interagindo o tempo todo com a plateia. A banda fez uma homenagem ao cantor Jorge Ben Jor, tocando um cover de “A Minha Menina”.
Após esse baile dançante, no palco externo os fãs do Dead Fish se amontoavam embaixo da chuva gelada que começava a engrossar. Sob o carinho demonstrado pelos gritos de “Ei, Dead Fish, vai tomar no c*”, o super carismático vocalista Rodrigo Lima conduziu a banda ao palco respondendo com “eu estava com saudade disso” e começou a bagunça com a trinca do álbum Zero e Um (2004), “A Urgência”, “Tão Iguais” e “Queda Livre”. Mais um show com muito discurso político, mas acima de tudo um show animado e divertido com muito mosh pit e coros cantados pela plateia. A banda fez homenagens ao MST e à ex-presidente Dilma Rousseff. O Dead Fish possui uma base de fãs muito sólida, arrisco dizer que foi a banda que mais levou público ao festival, porque era impossível andar por mais de 5 segundos sem ver alguém com suas camisetas. Apenas 1 hora de show foi muito pouco perto do que os fãs do Dead Fish mereciam.
Após isso, os punks do Chuva Negra fizeram uma verdadeira baderna encerrando as atividades do palco interno no primeiro dia, com muito barulho, mosh pit e crowd surf. Por algum motivo que não foi explicado, o Samiam no outro palco iniciou sua apresentação 15 minutos mais cedo, forçando o Chuva Negra a encerrar. Quem aguardava os californianos pode ver a banda posicionada e os músicos apontando para o outro palco, como quem solicitava que a apresentação fosse encerrada.
O show do Samiam, atração principal do dia, não foi tão animado quanto esperávamos. Porém o grupo possui uma base fiel de fãs que esteve bem presente do início ao fim.
No dia seguinte, domingo, o frio e chuva mais intensos foram um obstáculo para o público, mas não foram suficientes para afastá-lo. Todos deram um jeito de se esquentar, mesmo que fosse abraçando desconhecidos.
A banda Uelo foi responsável por abrir os trabalhos do segundo dia, seguidos pelo The Zasters.
O Karaokillers repetiu a apresentação do dia anterior, com os convidados no palco.
Em seguida, um dos melhores shows do dia: o Bad Luv, banda do guitarrista Gee Rocha (NX Zero). O grupo de emocore com fortes influências de Bring Me The Horizon não deixou ninguém parado e agrupou boa parte do público.
Os emos que pegaram a boa fase da saudosa MTV Brasil tiveram seu momento de glória com as apresentações do Hevo 84 e Mia, ex-vocalista da banda curitibana CW7. Mia apresentou músicas da sua carreira solo, sucessos da sua antiga banda e também uma prévia de um lançamento que ocorrerá em breve. Mia não apenas entregou uma performance musical excepcional, mas também demonstrou um cuidado visível com sua forma física e bem-estar. Seu sorriso genuíno não desbotou por um momento sequer, transmitindo uma sensação de proximidade com todos os presentes. Essa conexão emocional entre Mia e seu público criou uma atmosfera de comunhão e felicidade com os presentes. Além da presença magnética, Mia também brilhou com sua habilidade vocal, principalmente no cover de “Misery Business”, do Paramore e nas músicas da CW7, que fizeram a alegria de muitos adolescentes alguns anos atrás. Depois do show ela desceu até o pit para tirar fotos e conversar com os fãs. Muito solícita e simpática, Mia não segurou as lágrimas enquanto agradecia e abraçava todo mundo que estava ao redor.
Em seguida tivemos Day Limns colocando fogo no palco externo. A cantora e compositora tem uma pegada bem pesada ao vivo, em alguns momentos lembrando bandas de metalcore, como no cover de “Penhasco”, música que ela compôs em parceria com Luisa Sonza. Ela, que pouco interage com a plateia, conseguiu hipnotizar o público com sua performance.
A banda Leela fez um show mais intimista para uma plateia mais reservada, que se preparava para a sequência de hardcore com Granada, Zander e o segundo show do Rancore. Com a mesma base de fãs, as três bandas levantaram poeira no mosh e esquentaram bastante a noite que estava bem gelada.
Próximo do fim do festival, foi a vez de Jonny Craig, ex-vocalista da banda Dance Gavin Dance, assumir. Com muitos fãs presentes, Jonny cantou sucessos de suas duas outras ex-bandas, Emarosa e Slaves, bem como temas da sua carreira solo. Ótima maneira de Coube ao Chelsea Grin a tarefa de encerrar a edição de 2023 do festival. Enquanto o palco era arrumado, deu para perceber que a música seria mais barulhenta do que o esperado quando todos os amplificadores foram retirados, indicando que os instrumentos seriam ligados direto no PA. Não prometeram nada e entregaram tudo. Pontualmente às 21h30, o Chelsea Grin subiu ao palco liderado pelo vocalista Tom Barber. O frio logo virou calor, porque era impossível se manter parado enquanto a própria banda que se movimentava de um lado para o outro do palco convidava o público a pular. Com vários recursos de fumaça e o telão bem iluminado, a banda soube conduzir e agitar muito bem. Muitos mosh pits foram formados do início ao fim, deixando todos de alma lavada (literalmente) e bem exaustos.
A melhor coisa do festival foi o contato dos artistas com os fãs. Muitos transitavam livremente pela pista conversando, tirando fotos e dando toda a atenção que podiam. Entre eles, membros das bandas principais, como o Chelsea Grin e os nacionais citados. Essa interação é importante, aproxima o fã do ídolo e reforça o discurso de união e amizade que foi repetido por muitos desses artistas no palco.
Agradecemos à organização do Oxigênio Festival e ao Tedesco Midia pelo credenciamento.