Rockfun Fest leva famílias e motoclubes a loucura em tarde quente na cidade de SP

Imagem: Jennifer Anielle/ Prefeitura de São Paulo

10ª edição do evento gratuito aconteceu no Centro Esportivo Tietê

Com um lineup de peso mesclando grandes medalhões do hardcore, thrash metal e ícones do rock nacional, o festival prometeu e entregou tudo, com alguns pequenos contratempos. O evento era beneficente e foi apadrinhado pelo Insanos MC, de Osasco, recolhendo as doações de alimentos.

Um pouco antes do meio-dia, a banda Oitão, de Henrique Fogaça, chef e idealizador do restaurante Cão Véio, presente no evento, iniciou os trabalhos. Com tempo curto de apresentação mas com cada vez mais fãs e muita porrada, a banda já é figurinha carimbada nos festivais de São Paulo. Foram tocadas músicas como “Chacina”, “Podridão engravatada”, “Pobre Povo” e um cover de “Refuse/Resist”, do Sepultura. Com suas letras de protesto, o Oitão carregou um bom público no começo do festival, com direito a mosh pit. Após a apresentação, Fogaça circulou pela plateia para tirar fotos e conversar com os fãs.

   

Imagem: Gustavo Momberg

Na sequência tivemos a banda Estado Zero e seu emocore melódico. O grupo convidou o youtuber Marcelo Carvalho para um feat na música “Libertar” e no medley composto pelos covers “Faint” (Linkin Park), “B.Y.O.B” (System Of A Down) e “Duality” (Slipknot).

Em seguida, enfrentei o maior problema do festival: as filas. Fazia quase 30º em São Paulo, sendo impossível ficar seco a maior parte do tempo, me forçando a parar para me hidratar. Porém as filas eram divididas entre a compra das fichas e a retirada dos pedidos. Essa dinâmica não funciona nos festivais menores, porque funcionaria nos grandes? Com poucos caixas disponíveis, perdi mais de 1h nessa situação, o que me forçou a perder o show do Mattilha

Consegui voltar para a pista com tempo suficiente para presenciar uma das minhas bandas de harcore favoritas: John Wayne. Sempre muita porrada, mosh e gritaria. Quem acompanha a carreira dos caras sabe que nunca decepcionam. 

Seguindo tivemos talvez a banda mais aguardada do festival: Dead Fish! A banda foi calorosamente recebida com o carinho de sempre dos fãs, no coro “ei, Dead Fish, vai tomar no c*!”. O sempre divertidíssimo Rodrigo Lima agitava e gritava, conduzindo o público em uma sinfonia de destruição onde se formavam pirâmides, rodas e acima de tudo muita gente feliz e sorrindo. O discurso político também não podia faltar. Com opiniões declaradamente à esquerda no espectro político, Rodrigo declarou seu apoio à causa Palestina no confronto com Israel, que ganhou as manchetes nos últimos dias. As polêmicas sempre fizeram parte da história do Dead Fish. A banda pouco interage com o público, emenda uma música atrás da outra e não tem pausa para descanso. Hardcore na sua forma mais suja e crua!

Imagem: Jennifer Anielle/ Prefeitura de São Paulo

Após o atropelo que foi o Dead Fish, o som das bandas seguintes praticamente sumiu. A Crypta, que sempre leva muitos fãs para todos os eventos, fez um show morno e bem apagado. O vocal estava muito baixo, o público reclamou e não foi atendido. A apresentação que estava com as expectativas nas alturas acabou sendo a mais sem graça do festival.

Imagem: Jennifer Anielle/ Prefeitura de São Paulo

Continuando, foi a vez do Rockfun Legends animar um pouco o público que se manteve morno durante o show anterior. Com vocalistas convidados, a banda de covers oficial do festival homenageou Canisso, baixista do Raimundos falecido em um acidente doméstico esse ano. Em seu repertório foram tocadas grandes sucessos de bandas brasileiras como CPM 22, Glória e Raimundos, e clássicos internacionais como “Smells Like Teen Spirit” (Nirvana). os convidados para esse show foram Badauí (CPM 22), Emily Barreto (Far From Alaska/ Ego Kill Talent), Mi Vieira (Glória) e Alê (Bloco do Caos).

Imagem: Jennifer Anielle/ Prefeitura de São Paulo

A penúltima banda a se apresentar no Palco Rockfun foi o Krisiun. Formada por Alex Camargo e por Max e Moyses Kolesne, os gaúchos fazem um death metal de respeito e são uma das bandas brasileiras de maior projeção internacional, colecionando fãs e admiradores famosos como o baterista Bill Ward, conhecido por sua passagem pelo Black Sabbath e Tobias Forge, o intérprete do personagem Papa Emeritus do Ghost. O Krisiun merecia ter sido o headliner desta edição. Foi a banda que, ao lado do Dead Fish, levou mais público. Sempre muito competente, o trio executou seus maiores sucessos como “Blood Of Lions”, “Black Force Domain” e homenageou Lemmy Kilmister com um cover de “Ace Of Spades” do Motörhead. Lavou a alma de todos os presentes, o sangue foi oferecido aos leões e,  tão logo o show acabou, boa parte desse público devoto se retirou com a banda.

Finalizando os trabalhos no Palco Legends, o Mutantes emocionou seus fãs com clássicos que fizeram a alegria de muitos adolescentes nos anos 60 e 70. Com muita psicodelia e animação, a banda tocou para um público reduzido, tornando a apresentação bem intimista. Liderado por Sérgio Dias, único integrante a participar de todas as formações, o grupo promoveu encontros com o ex-baterista Dinho Leme na música “Desculpe, Babe” e o compositor Raphael Vilardi na canção “Não Vá Se Perder Por Aí”. Raphael foi um músico importante na carreira da banda e que também foi baixista em algumas ocasiões especiais. Sérgio apresenta desgaste físico ocasionado pela idade. Ele canta e toca sentado, mas toca com a paixão de um verdadeiro rockstar. Destaque para a música “A Minha Menina”, de longe a que mais fez o público dançar.

Coube a Paulo Miklos a tarefa de encerrar o festival. O vocalista dos Titãs tocou para um público bem cansado e reduzido, já sem energias depois de tanto peso ao longo do dia. Com repertório formado quase 100% por música dos Titãs e covers de outros artistas consagrados como Erasmo Carlos (“É Preciso Saber Viver”) e Raul Seixas (“Aluga-se”). Miklos convidou Henrique Fogaça para um feat na música “Lugar Nenhum” dos Titãs, e a apresentação seguiu até o final com mais clássicos atemporais dessa banda nacional tão conceituada. Foi bom? Claro, estamos falando de um Titã. Mas acho que um festival que focou principalmente no hardcore deveria ter colocado os medalhões da velha guarda para tocar antes. O público cansado de tanta correria foi embora antes das atrações principais, o que de certa forma não foi tão ruim. Isso tornou a experiência mais confortável para quem ficou, permitindo chegar mais perto do palco para acompanhar as lendas da música brasileira.

Apesar desses contratempos, o festival foi divertido e leve. Muitas famílias com crianças pequenas e até seus animais de estimação estavam presentes. Esse evento é uma iniciativa importante da Prefeitura de São Paulo na divulgação da música boa e democratização do acesso à cultura. Dessa forma se encerrou a edição de 2023 do evento. Aguardamos o anúncio do próximo lineup, já com a saudade do que vimos esse ano.

Imagem: Jennifer Anielle/ Prefeitura de São Paulo