Palaye Royale – Crédito: Palaye Royale Brasil/Ana Júlia
Texto por: Tiago Pereira
Banda estadunidense fez seu primeiro show no Brasil após adiamento no início do ano e mesmo com desfalque de baterista por problemas de visto
Há um ditado popular que diz: “A primeira impressão é a que fica”. E depois da apresentação apoteótica realizada pela banda estadunidense Palaye Royale, realizada no último dia 16 de maio, no Carioca Club, em São Paulo, a impressão foi mais que positiva, tanto para fãs mais assíduos, quanto para curiosos presentes no local, mesmo com um desfalque de última hora na banda.
O trio, que se apresenta como um quinteto ao vivo – quarteto, no caso deste show -, pisou pela primeira vez em solo brasileiro após o adiamento do show que, inicialmente, aconteceria em 25 de janeiro deste ano, no Hangar 110, sendo alterado devido aos incêndios que atingiram Los Angeles, cidade em que os membros moram. Ainda assim, houve a ausência do baterista Emerson Barrett, que não conseguiu viajar com os demais membros por problemas de visto, situação que o manteve na Argentina – país em que o Palaye Royale se apresentou dois dias antes (14) – e gerou o remanejamento do baixista Logan Baudéan para seu posto.
Ainda assim, o grupo fez uma apresentação concisa e divertida para o público que ocupou metade da pista e boa parte dos camarotes do mezanino e que, numa forma de extravasar a ansiedade da espera e demonstrar todo o carinho brasileiro pela banda, cantou, no maior volume possível, todas as 15 faixas do setlist, criando um ambiente que pareceu ser de casa cheia – e que até mesmo gerou o senso de injustiça por não ter um público maior. O repertório, inclusive, abrangeu os cinco álbuns de estúdio da banda: “Boom Boom Room (Side A)” (2016), “Boom Boom Room (Side B)” (2018), “The Bastards” (2020), “Fever Dream” (2022) e “Death or Glory” (2024).
Não obstante da performance sonora, Remington Leigh, vocalista do Palaye Royale, foi uma verdadeira “metralhadora de surpresas” em meio a ótimas execuções vocais, pois conseguiu realizar o máximo de interações possíveis para além do palco: se aproximar das fãs presentes na frente do palco, pular no público com um bote inflável, atirar jatos de água com uma NERF, organizar e participar de moshes, puxar coros e, no ato mais insano, pular do mezanino para a pista, retornando ao palco pela área de fotógrafos. Foi possível tirar uma conclusão de que a espera por aquela noite, por parte dos fãs, foi muito bem compensada.
Pré-show
A falta de uma banda de abertura impactou na espera do público que, em sua maioria, permaneceu sentado na pista do Carioca Club até pouco antes do início do show. O lado positivo disso foi o guardar das energias – vocal e física – para o evento principal.
E com o público majoritariamente jovem, com maioria feminina, no Carioca Club, que ocupou pouco menos da metade da pista, linhas do fundo dela e boa parte dos camarotes do mezanino, a equipe responsável pelo som acertou na playlist prévia, deixando músicas de bandas das últimas gerações do Metalcore e do chamado Metal Moderno, a exemplo de Spiritbox, A Day to Remember, Alpha Wolf, Architects, Knocked Loose e até mesmo a colaboração entre Bring Me the Horizon e Babymetal, “Kingslayer”, uma das mais cantadas naquele “aquecimento”.
Quando deu 21h, o Carioca Club virou um mar de agitações com o abrir das cortinas e a fumaça que pairava no palco, em meio à introdução. Era o prenúncio de uma noite de estreia mágica para o Palaye Royale.
Palaye Royale
Com a revelação do palco, os membros instrumentistas do Palaye Royale já estavam em seus postos: Dave Green na guitarra, Sebastian Danzig em outra guitarra e Logan Baudéan na bateria. No último caso, Logan abdicou do baixo para assumir o posto de Emerson Barrett, barrado por problemas de visto. O palco teve como decoração um fundo com diversos lábios em quadros preto e branco, com contraste entre a figura e o fundo.
“You’ll Be Fine” foi a primeira faixa das 15 previstas no setlist e, logo após seu início, o vocalista Remington Leith apareceu para completar o lineup da banda e dar início à loucura de uma apresentação inesquecível para os fãs. A resposta da galera veio com um coro avassalador logo nas primeiras estrofes e, principalmente, no refrão, mostrando que seria assim ao longo do show todo. Danzig nem mesmo se aguentou e chegou a ir para o público no meio da faixa, para delírio das fãs da grade.
Da mesma forma que o público demonstrou toda sua admiração à banda desde o início, o Palaye Royale mostrou que tinha surpresas para a maioria das faixas. A primeira delas veio em “Death or Glory”, no qual Remington organizou o primeiro jumpdafuckup da noite, uma dinâmica que consiste em agachar e pular na contagem. Em seguida, “No Love in LA”, em uma sonoridade um pouco mais Pop Rock, veio sob predomínio de luzes amarelas no palco e balanços de braços que manteve os ânimos em alto nível.
Para a faixa “Little Bastards”, a letra sobre solidão e perda de considerações foi quase que uma “contradição positiva” a um cenário divertido da pista, que ainda contou com um pequeno circle pit no meio da galera e com a primeira aproximação de Remington ao público. Em seguida, o clima divertido cresceu com “Just My Type” e os balões brancos jogados para todos os lados – apesar de Danzig ter estourado ao menos quatro com sua guitarra, conforme chegava perto dele -. Surpreendentemente, o frontman não somente ficou em evidência novamente pela ótima execução vocal, como também por receber um sutiã de alguma fã próxima da grade.
As surpresas variaram ao longo do show, a exemplo de “Addicted to the Wicked & Twisted”, com início mais lento e predomínio das luzes vermelhas, todavia com a energia e sinergia evidentes de banda e fãs nos refrões, somadas a um momento em que Remington Leith simplesmente trouxe uma pistola d’água para atirar contra a galera, em meio às interações dos guitarristas da banda. Mais impressionante que isso, só em “Showbiz”, no momento em que os roadies da banda jogaram um bote inflável para que o vocalista pudesse transitar da frente para o meio da pista, carregado por fãs em estado de êxtase.
“Broken”, oitava faixa da noite, foi dedicada aos brasileiros, sob a declaração de amor de Leigh e banda pelo Brasil. O drive vocal mais “arranhado” trouxe uma carga para a faixa, que também contou com os flashes dos diversos celulares presentes na pista e mezanino e, claro, do incessante e constante coro dos fãs. O clima energético voltou com tudo em “Hang on Yourself”, inflado pelos chamados do vocalista por “Brasil” e os gritos cada vez mais altos da galera, que cantou de cabo a rabo e aclamou fervorosamente ao final da faixa.
Remington ainda causou um momento fofo ao aprender a falar “eu te amo” na língua portuguesa, sendo ensinado pelas fãs da grade quando perguntou. Foi um prenúncio para outro momento bonito – e organizado previamente – em “Dying in a Hot Tub -, com parte dos celulares iluminando a pista com luzes azuis, geradas pelo flash dos celulares e, possivelmente, por pedaços de plástico que deixassem nesta coloração. O engajamento, novamente, também foi vocal, em outro belo coro da galera.
“Fucking With My Head”, veio após ajustes na bateria de Logan, que precisou trocar a caixa e possibilitou um discurso e interações mais longas da banda. Certo é que a volta seguiu triunfal, com refrões bem cantados e terminada com Remington Leigh no meio do público – novamente -, numa roda que ele mesmo pediu para abrir e viu a galera bater cabeça de forma divertida. O frontman ainda seguiu ao menos no pit de fotógrafos, em “For You”, tanto para abraçar, quanto para organizar outro jumpdafuckup na reta final da música em questão.
Leigh ainda ficou sozinho no palco, no piano montado à esquerda do palco (direita dele), para o início de “Lonely”. Ele fez uma brincadeira nas primeiras notas, afirmando que o piano estava “soando como Whitesnake”, gerando risadas de quem conhecia a lendária banda de David Coverdale. No entanto, quando pegou o tom e o ritmo, o vocalista do Palaye Royale providenciou um ótimo começo para a música que, tempos depois, teve o apoio dos demais instrumentistas, já de volta ao palco, tudo sob cantos constantes dos fãs.
Mas não para por aí: em “Fever Dream” na fase mais agitada da faixa, Remington simplesmente deu uma de Eddie Vedder no começo do Pearl Jam e, do mezanino do Carioca Club, se pendurou no primeiro camarote até pular para a pista quando seguro, voltando ao palco pelo pit de fotógrafos. Talvez esse tenha sido o momento mais impressionante e absurdo daquela noite, disparadamente, assim como um dos mais insanos dentre as apresentações do Carioca Club neste ano.
Os membros do Palaye Royale fizeram outra pausa antes da última faixa. A histeria coletiva levou aos gritos de “Eu não vou embora” por parte dos fãs. Uma das funcionárias do Carioca, no fundo da pista, gritou “Ah, mas vocês vão sim!”, em tom de brincadeira e mesmo que ainda fosse “cedo” naquela noite. Pouco depois, a equipe de iluminação ainda brincou com o público, forçando eles a gritar em cada feixe de luz, assim como a expressar tristeza quando elas se apagavam.
Mas tudo se converteu ao último ato de felicidade, quando o quarteto da noite voltou e Remington, ainda muito animado, perguntou algumas vezes se o público queria mais uma. A cada vez, os gritos se tornavam mais intensos, como uma prova complementar da expressão de felicidade pela presença da banda e pelo amor por eles. E quando “Mr. Doctor Man” começou a ser tocada pela banda, o coro se intensificou ainda mais na primeira parte da faixa e nos refrões, com palmas rítmicas na segunda metade e, como parte do gran finale, a participação de Leigh no mosh que ele mesmo organizou na pista, somando isso a uma finalização apoteótica da banda, no palco.
Sebastian Danzig foi o último a sair do palco, após jogadas de palhetas, baquetas e setlists por ele e seus companheiros de banda, somados a um discurso mais sentimental de agradecimento. Talvez seja até possível interpretar aquilo como um duplo agradecimento, pensando na paciência e compreensão que os fãs tiveram com a alteração de data, no começo do ano, e com o desfalque inesperado horas antes do show, que evitou uma apresentação com o lineup completo. De todo modo, a entrega do Palaye Royale e dos fãs foi mútua, intensa e sincera, mostrando não somente a superação destes problemas repentinos, como a concretização de uma relação entre banda e público que, se depender da impressão mais que positiva causada no Carioca Club, tende a aumentar e gerar ainda mais fãs nas futuras passagens do grupo em solo brasileiro e pela América do Sul, algo que só comprovaria mais a ascensão mais que destacada do grupo.
Confira o lineup abaixo:
- You’ll Be Fine
- Death or Glory
- No Love in LA
- Little Bastards
- Just My Type
- Addicted to the Wicked & Twisted
- Showbiz (Remington Leigh vai à pista com um bote inflável)
- Broken
- Hang On to Yourself
- Dying in a Hot Tub (luzes azuis vindas do público)
- Fucking With My Head
- For You
- Lonely (Remington Leigh inicia no piano)
- Fever Dream (Remington Leigh pula do mezanino para a pista)
- Mr. Doctor Man (Remington organiza e participa de mosh na pista)