A banda de “Southern Rock” retorna ao Brasil em um show repleto de homenagens e de solos de guitarra e teclado.
Toda vez que vou ao espaço Unimed sempre adoro observar o entorno do local antes do show. Ao contrário de um festival em que você tem um público diverso, mas que acaba se diluindo em uma “vibe” do evento e não de um artista específico, as apresentações únicas reúnem “apenas” pessoas da mesma tribo, fazendo com que o local se transforme momentaneamente em um recorte da personalidade da banda que vai tocar no dia.
Com o Lynyrd Skynyrd isso significa que ao chegar eu dei logo de cara com motos Harley Davidson enfileiradas no estacionamento, homens cabeludos portando algumas das barbas mais magníficas que eu já vi e muita gente de preto ou vestindo uma jaqueta jeans com aquelas estampas bordadas. Apesar de eu não ter mais as madeixas longas de outrora e de nunca ter conseguido crescer uma barba de respeito, eu me infiltrei no espetáculo e abaixo conto tudo pra vocês.
Um legado forjado na dor
O show começa com o telão exibindo cenas de um jovem em uma loja de discos de vinil ao som de Thunderstruck do AC/DC. Ao encontrar um álbum do Lynyrd Skynyrd com o título de 50 anos da banda o som aumenta e o telão começa a projetar cenas do longo passado do grupo, incluindo momentos com os vários integrantes que não estão mais entre nós. Ao final dessa visita ao passado, uma locução anuncia a entrada da banda e a seguinte frase é exposta: “Their legacy lives on”.
Essa frase representa a temática do show, que não apenas comemora o fato raro de se atingir 50 anos de carreira, mas reconhece que não tem como ter uma herança tão profunda sem dor, sem ter perdido algumas pessoas pelo caminho. Esse sentimento simboliza perfeitamente o Lynyrd Skynyrd, uma banda que sobreviveu a um acidente aéreo nos anos 70 que matou praticamente todos os integrantes originais e que, em 2023, perdeu Gary Rossington, o último membro original do conjunto.
Ao longo da apresentação a banda faz questão de homenagear todas essas almas que foram perdidas, hora intercalando cenas dos integrantes originais tocando a música que a banda atual está tocando no momento, hora exibindo os nomes das pessoas no telão.
O trio de ouro
Existem três músicas que se sobressaem no catálogo do Lynyrd Skynyrd e, como esperado, os grandes destaques da noite foram na hora que eles tocam essas canções.
A primeira tocada foi “Simple Man” que serviu de pano de fundo para o momento mais emocionante da apresentação. Tinha um fã na grade do palco com um cartaz escrito “I’m your number one fan, let me sing simple man with you”. O Johnny Van Zant leu e prontamente convidou o homem ao palco para cantar com ele. Momento de tensão, já que a possibilidade de uma pessoa aleatória subir no palco e errar o vocal pode estragar uma das principais músicas do espetáculo. Por sorte do público presente, foi exatamente o contrário que aconteceu. O fã mandou excepcionalmente bem, cantou perfeitamente no tom e durante toda a música ele fez uma dupla com o Johnny.
Após finalizar Simple Man, o emocionado fã revelou que o nome dele é Nando Fernandes e ele é cantor da banda “Sinistra” que explica a grande performance que todos assistiram.
Apesar de não terem chamado mais ninguém da plateia pro palco, “Sweet Home Alabama” e “Free Bird” (que encerrou o show) foram as músicas que mais animaram os espectadores e ficaram ainda mais bonitas ao vivo com a dupla de backing vocals e uma mistura de solos de guitarra, teclado e até gaita.
Aleatoriedades da noite
Lynyrd Skynyrd possui uma ligação histórica com o sul dos EUA, região tradicionalmente republicana que normalmente tem um elo muito forte com o exército americano, então não foi surpresa quando o Johnny Van Zant achou que geraria aplausos reverenciar o exército brasileiro e os soldados que arriscam suas vidas pela nação. Porém como o brasileiro não possui esse vínculo tão forte com os militares a reverência apenas provocou alguns aplausos perdidos.
Os hits da banda são dos anos 70, eu não era nascido, mas para quem joga videogame é impossível não ficar nostálgico ao ouvir “Free Bird”, uma música que foi introduzida para toda uma geração pela rádio K-DST do jogo GTA San Andreas. O som me transporta diretamente para a cidade virtual de Los Santos.
Ao sair do Espaço Unimed muitos dos homens cabeludos e com barbas magníficas agora estavam descabelados e suados, porém vários soltaram a seguinte frase exaltando o show: “Banda velha é do cara***”.