Imagem: Ryan Chang
Banda sueca retornou ao país após 6 anos de ausência e saudade dos fãs brasileiros
A onda de calor divulgada pelo Inmet no começo da semana parecia anunciar o que aconteceria a seguir: o demônio viria ao Brasil, e São Paulo seria temporariamente a sede do “Clero”.
O Ghost desembarcou em Guarulhos na manhã do dia 20. Tobias Forge, intérprete do personagem Papa Emeritus, interagiu e distribuiu autógrafos e sorrisos aos fãs. Vídeos do momento viralizaram nas redes sociais e mostraram ao mundo porque o músico é tão querido pela cena.
Próximo do final da tarde, mais pessoas foram se juntando na fila que até o momento era formada por fiéis acampados há alguns dias. Os fiéis capricharam na caracterização e poderiam facilmente fazer parte do show: freiras, padres e claro, papas com pinturas faciais de caveira e crucifixos estavam presentes.
Pouco antes da abertura dos portões houve uma baixa no evento: a Crypta, banda de death metal brasileira convidada para abrir os shows, teve sua apresentação cancelada por problemas de logística: o equipamento do Ghost demorou para chegar ao Brasil, atrasando a montagem do palco e forçando o cancelamento da abertura.
Um pouco depois das 21h, Papa Emeritus e um grupo de Nameless Ghouls (monstros sem nome) começaram a missa com a intro “Imperium” e a música “Kaisarion”, do álbum mais recente Impera (2022).
Ghost é o que aconteceria se o diabo viesse à Terra para fazer um musical da Broadway: os arranjos bem ensaiados, a produção cenográfica impecável, as músicas conceituais e a interação constante da banda com a plateia são os pilares desse projeto. Papa trocava de roupa em diversos momentos como uma verdadeira diva pop. A apresentação seguiu com “Rats” e “Faith”, além de “Spillways” e a maligna “Cirice”, ganhadora do Grammy de melhor performance de metal em 2016 e dona de uma dos riffs mais diabólicos da história da música.
Importante ressaltar que a faixa etária do público do Ghost é muito diversa, indo desde jovens até idosos. Isso é um reflexo das diferentes fontes musicais de onde a banda bebe, indo dos gigantes do rock e heavy metal como Black Sabbath, Mercyful Fate e Blüe Öyster Cult até medalhões do pop como Abba e Depeche Mode. Essa mistura de gêneros atraiu um público mais velho, enquanto as redes sociais impulsionam músicas como “Square Hammer” e “Mary On a Cross”, essa última a mais cantada pela plateia.
Mais próximo do final da apresentação, Papa Emeritus reservou uns minutos para conversar com a plateia. Agradeceu o público pela presença, pediu que todos se hidratassem para enfrentar o calor, que foi o ponto ruim do show. A casa estava muito quente a ponto de alguns fãs precisarem ser atendidos. Por fim, Papa agradeceu as meninas da Crypta e confirmou que no dia seguinte elas iriam tocar. Muito bom esse respeito com a banda de abertura, que também foi observado nos próximos dias quando os membros do Ghost foram fotografados sem máscara e usando camisetas da Crypta enquanto tiravam foto com os fãs. Papa também pediu desculpas por não vir com frequência ao Brasil, prometendo resolver isso. Em uma entrevista para a edição 233 da revista Roadie Crew em 2018, ele disse que “um dos meus objetivos com o novo disco é poder ir à America do Sul com o show completo”, se referindo ao álbum Prequelle. Tivemos que aguardar mais dois álbuns e alguns anos, mas a espera valeu a pena.
O ponto alto da apresentação foi a música “Miasma”. Presente no álbum Prequelle (2018), esse instrumental te leva direto para a Idade Média, onde o medo da Peste Negra e do desconhecido traziam uma sensação crescente de morte. Cheia de ambiência e a impressão de que está nos cobrindo com uma grande névoa medieval, o baile da Miasma nos leva a uma jornada dançante rumo ao além. A música conta com a participação do Papa Nihil, o pai do Papa Emeritus, que morreu durante uma apresentação e é “ressuscitado” todas as noites para um solo de saxofone divertidíssimo e cheio de suingue.
Na música “Mummy Dust”, cédulas de dinheiro cenográfico com o rosto do Papa são atiradas na plateia por meio de canhões, virando um souvenir para os fãs.
A apresentação foi finalizada com os dois hinos dançantes “Dance Macabre” e “Square Hammer”, levando todos ao delírio. O clima de união, felicidade e rock n roll se manteve presente do começo ao fim.
Agradecemos ao Ghost pela apresentação memorável e a todos que fizeram esse evento possível, especialmente os fãs.